quinta-feira, 1 de setembro de 2011

As funções do bibliotecário vão muito além da biblioteca

Na Antiguidade, as bibliotecas eram espaços restritos a poucos grupos, sobretudo religiosos, pois o saber tinha um caráter sagrado. Apenas os sacerdotes e os nobres sabiam ler e, consequentemente, podiam ter acesso ao conhecimento. Já o mundo contemporâneo é marcado pela democratização da informação, os acervos estão por toda parte, na realidade física e virtual, e têm passagem livre para quem quiser explorá-los. Apesar do livre acesso, um guia capaz de auxiliar na seleção de conteúdos, em meio ao enorme volume de informações disponíveis, não pode ser dispensado. Nesse contexto, o bibliotecário, que era visto como “guardião de livros” no passado, passa a ser um mediador entre as diferentes fontes de informação e o público. Entretanto, de forma geral, a escola ainda não conhece suficientemente a amplitude das funções do bibliotecário, que acaba não desenvolvendo todas as atividades para as quais é apto, nem as diferentes possibilidades pedagógicas que a biblioteca oferece.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) destaca que compete à biblioteca escolar não somente lidar com as demandas do aluno, mas, sobretudo, atuar no contexto do projeto político-pedagógico da instituição de ensino, por meio do trabalho integrado com o professor e a gestão escolar. Para a presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), também mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e chefe da Biblioteca da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do mesmo Estado, Nêmora Arlindo Rodrigues, nem sempre as escolas estão cientes dessa função, em primeiro lugar, porque o brasileiro em geral não tem o hábito de frequentar bibliotecas e isso inclui os docentes. “A necessidade imediata é de que professores e bibliotecários atuem em conjunto, transformando a biblioteca escolar num espaço de aprendizado em apoio ao processo pedagógico desenvolvido na escola. Não deve haver distinção entre os espaços. A escola toda deve estar voltada para o mesmo objetivo e isso inclui a sala de aula, a biblioteca, os laboratórios de ciências e de informática, a cancha de esportes, os professores, alunos e pais.”

A lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010, estabelece a obrigatoriedade de todas as instituições de ensino, da rede pública e privada, possuírem biblioteca com acervo mínimo de um título por aluno. O prazo para adequação à medida é de 10 anos, ou seja, até maio de 2020, e a lei também prevê que a profissão de bibliotecário seja respeitada, o que significa que as escolas devem incluir o profissional em seu quadro de funcionários. Entretanto, muitas vezes, as instituições de ensino, sobretudo de pequeno porte, não enxergam a necessidade de manter um bibliotecário porque o imaginam trabalhando apenas em seus diminutos acervos. A presidente da CFB explica que há uma série de atividades que o profissional com formação em Biblioteconomia pode desenvolver no ambiente educacional. Entre as mais importantes estão: auxiliar a pesquisa escolar (que inclui incentivar o aluno a buscar informações em fontes fidedignas), estimular a criatividade e a curiosidade dos estudantes, ampliar na biblioteca conteúdos abordados em sala de aula em metodologia conjunta com o professor e, ainda, incentivar a pesquisa por meio de jogos, gincanas e olimpíadas de conhecimentos, por exemplo. Dentre as atividades ligadas à leitura está o trabalho de apoio às leituras escolares, assim como de lazer e entretenimento, além da promoção de “contação” de histórias, rodas de leitura, performances artísticas a partir dos textos lidos, encontros com escritores e ilustradores de histórias, entre outras ações.
Mais de 50 tarefas

O bibliotecário responsável pelo Sistema Batista Mineiro de Educação (SBME) Igor Rezende Quintal, especializado em Gestão Estratégica de Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais, conta que, no levantamento mais recente de processos conduzido na instituição, foram elencadas mais de 50 atividades desempenhadas pelo gerente da biblioteca central, cargo que ocupa há pouco mais de um ano. A instituição é formada por um colégio, com quatro unidades, uma faculdade, um centro de idiomas e também mantém dois projetos sociais. Quintal dá suporte a todas as unidades. Para se ter uma ideia de suas atribuições, ele atua com os coordenadores na seleção das novas obras que serão adquiridas, dos itens desatualizados do acervo para descarte, acompanha todas as assinaturas de periódicos, faz o controle financeiro e a previsão orçamentária da biblioteca, oferece monitorias sobre normalização de trabalhos de conclusão de curso e também trabalha na identificação de todos os processos do SBME em conjunto com a gerência desse departamento.

No ano passado, o bibliotecário também idealizou e deu início ao projeto Gestão Eletrônica de Documentos (GED), que abrange a centralização, arquivamento, condicionamento, descarte e disseminação dos documentos produzidos por toda a instituição. Segundo Quintal, com o GED foi possível economizar mais de R$ 200 mil em mão de obra, tecnologia, equipamentos e estrutura física. “É importante explicar que o acervo bibliográfico é um dos estágios da gerência de informação que um bibliotecário pode atuar. Hoje, o potencial de atuação de um bibliotecário vai muito além das práticas de um acervo. Com o advento das tecnologias da informação, conseguimos nos 'libertar' de algumas atividades 'braçais', embora extremamente necessárias e fundamentais, que o computador faz quase que instantaneamente, permitindo que o bibliotecário desenvolva projetos junto aos setores pedagógicos e administrativos”, esclarece.

Novas tecnologias

O bibliotecário é formado para dar suporte informacional e organizacional seja qual for a plataforma, que pode ir desde arquivar documentos da maneira adequada até gerenciar conteúdos na web. Suas competências vão além das estantes de livros e do contexto escolar, o que permite a atuação desse profissional em diferentes departamentos da instituição de ensino, conforme as demandas existentes. Por essa mesma razão, a utilização das novas tecnologias, ao contrário do que pode parecer em um primeiro instante, não modifica a essência do trabalho. “Quando algo é organizado em suporte impresso continuará organizado quando for digital. As técnicas de organização e gerenciamento de informação não se alteram quando o conteúdo está em bytes”, ressalta Igor Quintal.

Apesar da disponibilidade da informação na era digital, Nêmora acredita que o bibliotecário pode contribuir, dentro do ambiente educacional, para que o estudante aprenda a desenvolver seus próprios filtros e assim seja capaz de manter o espírito crítico durante suas pesquisas em meio ao extenso volume de conteúdos do mundo virtual. “A tecnologia deve ser empregada a favor do processo de aprendizagem, conduzindo o aluno ao desenvolvimento de sua autonomia, capacitando-o a buscar, de forma crítica e criteriosa, as informações de que necessita. Principalmente nesse âmbito, a presença do bibliotecário é fundamental, no auxílio ao desenvolvimento dessas habilidades”, destaca.

A imensa quantidade de informações que a web agrega ao universo do conhecimento não assusta o bibliotecário do SBME. “Surgiram novas demandas e apareceram novas ferramentas que facilitaram as antigas práticas, mas a matéria-prima, a informação, continua a mesma. A Biblioteconomia, como área de estudo da Ciência da Informação, vem apresentar soluções frente à produção exponencialmente progressiva de informação em que vivemos”, resume Quintal.

Matéria produzida pela revista Gestão Educacional. Para saber mais, acesse o site da Gestão Educacional.

Fonte: Bem Paraná

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